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domingo, 24 de janeiro de 2010

Meu amigo Eu



Quando eu era pequeno, eu tinha um amigo imaginário. Ele “encarnava” nos meus bonecos e brincava comigo. Conversávamos muito, principalmente quando eu brigava com meus irmãos, e ele sempre me aconselhava, inclusive me mandava fazer as pazes com aquele irmão que tinha me chamado de “baixinho buchudo” por eu ter me recusado a ir jogar uma partida de futebol (nunca fui fã de futebol).

Puxa! Aquele meu amigo imaginário era demais. Ele era corajoso, enfrentava qualquer desafio; foi ele quem me incentivou a enfrentar meu medo de altura, e era ele quem me ajudava a perambular pela casa no escuro. O cara sabia tudo, me ensinava coisa úteis, me contava piadas e histórias pra eu dormir. Às vezes ele era meu pai e, sempre que eu pisava na bola, me dava uma lição de moral ou um conselho útil (algo como: “fuja para as colinas!”). Éramos os melhores amigos, mas, como nem tudo na vida é “paz e amor, bicho!”, também brigávamos de vez em quando.

Daí eu fui crescendo e as coisas foram mudando. Meu amigo continuou conversando comigo, mas eu comecei a notar algumas coisas estranhas. Primeiro foi a voz dele; era exatamente igual à minha, inclusive sofreu as mesmas mudanças na adolescência. Depois notei que ele se parecia muito comigo, tanto no comportamento como nos “atributos físicos” (eu sempre quis dizer isto!), ou seja, ele era meio louco e feio que nem eu; só que ele costumava refletir, filosofar, e repassava o produto dessas reflexões para mim.

Um dia eu fiz algo, ele discordou, e nós brigamos feio . Ele até disse que me mataria, “se pudesse”, e depois disso fomos cada um para o seu lado. Mas ele deu meia volta e me disse: “Ei! Eu não posso ir embora”. Perguntei o motivo, ele disse: “Porque eu te amo! Vamos esquecer essa briga e seguir em frente”. Eu questionei que coisa era aquela de “eu te amo!” (algo meio... estranho demais). Daí ele me disse: “É simples. Eu te amo, porque eu sou você”.

Depois disso continuamos amigos, e agora eu tenho muito mais confiança nele. Ele é a minha consciência a refletir sobre os meus atos, e o amor próprio a me fazer sentir que sou importante (pelo menos para nós...). Foi assim que eu entendi que o meu amigo imaginário de sempre sou eu mesmo, ou melhor, é uma parte de mim.


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