Há corvos em minha cabeça. Eu disse corvos. Avezinhas inteligentes e agourentas, perspicazes e chamadoras da morte. Que farei para daí tirá-los? Ou melhor, como é que vieram aninhar-se aí? Que o responda minha consciência, velha moradora de minha mioleira, vizinha desses mais novos inquilinos.
Os corvos em minha cabeça não são como as borboletas no estômago de alguém ou como o elefante cor-de-rosa no colo do bêbado na sarjeta. São bem vivos, faladores, mas não somem no dia seguinte. Nem depois. Talvez nunca.
Seu grasnar incessante invade-me os sonhos, desperta-me dia após dia, ou faz-me atender a porta (quando penso ser a campainha). Vez por outra me acalenta. E durmo em meio ao seu barulho.
Não! Não li nada do Poe. Ainda que houvesse lido, que teria isso a ver com meu drama? Apenas Ouço, sinto e sei que os corvos estão lá. Creio que foram chegando um a um, enquanto eu estava distraído, olhando para os problemas da vida. Mas não sei ao certo se foi assim ou se vieram todos a uma e me tomaram a cabeça de assalto. Vai-se saber…
Quisera eu saber controlá-los como o Jamian. A um assobio eles saberiam da minha vontade, obedeceriam e assim, seriam de alguma serventia. Mas não os controlo. Eles é que sabem o que fazem em minha cabeça. E fazem o que bem entendem. Será que não estão a controlar minhas ações? Pode ser que eu já não passe de um zumbi a serviço deles. Tudo é possível quando se chega ao extremo de ter corvos morando em sua cabeça.
Se fosse apenas um par de corvos (sem trocadilhos, por favor) eu lhes daria os nomes de Faísca e Fumaça, mas são tantos que faltariam nomes. Eu mesmo não pergunto como devo chamar-lhes. Temo que, ao perguntar-lhes pelo nome, me respondam: “Legião, porque somos muitos”.
3 comentários:
Fiz uma ilustração (tosquinha) baseada no texto. http://fav.me/d5h1zw3
Se não são os corvos de Edgar Allan Poe, talvez sejam os de Resident Evil.
Quem sabe... =)
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