A minha pobreza é de vida,
Devida e não paga à morte.
É sorte não ter longa vida,
Mas que tem o pobre co'a sorte?
Se é forte dizer isso ainda,
É que há coração caridoso.
Se ver-me não te angustia,
És verme em carne e osso.
Osso do quadril me desponta
Se sento no banco da praça;
Me faz bem o arrulhar das pombas
Que em todos defecam de graça.
Que graça que faço que riste?
Se a vida é maior piada,
Que tudo na vida é tão triste,
Mas ri-se de tudo e de nada.
Se não faltar chuva pro banho,
Jornal-cobertor, pão de ontem,
Me faça o destino outro tanto
De bem, se não mudo meu nome.
De manhã acordo com fome,
Mentira! Nem durmo, faminto.
Será que mudando de nome
Engano a fome e o destino?