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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Dia a dois



Dia mais quente, 
Cheiro da gente, 
Gosto de amor, 
Beijo de tchau 
E um olhar de até mais.

Meio do dia, 
Na correria, 
Almoço e afago, 
Doce e amargo, 
Da cama ao banho e o que mais.

No fim de tarde, 
Sem mais alarde, 
Conversa e tal, 
Olhar de amor, 
Do banho à cama e tudo mais.

Noite em mormaço, 
No pouco espaço, 
Beijos e abraços, 
Risos e estalos 
E um olhar de algo mais.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Esquindô



Não sei se o dia vai morrer de dor. 
Será que o céu vai devolver a cor 
Que o fim da tarde sempre esconde 
E faz sumir no horizonte? 
E o som do bonde 
Ao seu adeus responde. 
E ao meu olá, talvez.

Será que a noite vai querer dormir? 
Não sei se a lua vai querer sair, 
Que a noite é uma criança grande 
E quer brincar de pique-esconde. 
E não sei onde 
O seu adeus ecoa. 
E o meu olá, de boa.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Afundando



Na solidão do meu quarto 
No parto de ideias tristes 
Lamento meu despreparo 
Face a tudo que existe 
E perco o precioso tempo 
Envolto em mil suicídios 
E acordo do pesadelo 
Com corda, cacos de vidro 
E viro pro outro lado 
Secando o suor de sangue 
E durmo mal embalado 
Afogado em meio ao mangue.

 

sábado, 27 de setembro de 2014

Me aguente



Copiar o amor dos poemas dos outros;
Seria tão pouco, pra não dizer nada.
Imitar cada gesto duma cena de amor;
Eu não sou bom ator, imagine a piada.

Me fazer Pierrot, de você, Colombina;
Carnaval não me anima, você deve saber.
Nem em cavalo branco chegarei montado;
Mas não chego atrasado, você sabe o porquê.

Tenho minhas manias e tiques e taques;
Talvez eu tenha TOC, mas que mal isso tem.
Se amar é o que vale, isso pode ser feito;
Só que tenho meu jeito, não imito ninguém.

Sei que estou te amando, é verdade, não minto;
Eu sei bem o que sinto, mas te custa entender
Que com tudo o que tenho em meu juízo pouco,
Meu amor é tão louco quanto eu posso ser.

Acredite ou não, esse amor é sincero;
Nada em troca eu espero, tudo bem se der ruim.
Mas se todo esse amor não é suficiente,
Meu amor, me aguente, não desista de mim.


sábado, 16 de agosto de 2014

Branco



Suzana tinha um cavalo amarelo. Seu nome era Branco.

Não era um animal de passeio nem de exibição. Era um animal trabalhador. Motor e ferramenta. Transporte de carga e de gente.

Anos passados de uma vida sofrida, Branco faleceu. Fizeram-lhe todas as homenagens possíveis. Trataram de encomendar uma estátua para ser posta na praça da cidade. Deram-lhe todas as honras, apreço e carinho (simbólico, é claro) que lhe negaram durante toda a vida.

Assim todos ficaram satisfeitos, de consciência leve, livres da culpa e cheios de medalhas de caridade no peito. E o cavalo, morto.

Suzana suicidou-se.


sábado, 26 de julho de 2014

matrimonium



Espero repleto de amor, 
Da cor de seus cabelos, 
Que a espera não cause mais dor 
E atenda aos meus apelos; 
Que vida reserve a nós dois, 
Além do alpendre e depois: 
A cumplicidade do laço, 
A serenidade dos barcos, 
E a felicidade de um dia de sol.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ashita made



Acordar da vida, 
Despertar dos dias sem sentido. 
Ver que além da linha 
Do horizonte, logo ali, há um dia lindo. 
Indo e vindo os dias passam; 
Praça, porta a dentro, 
Venta, chove e faz sol. Talvez 
O adormecer da vida 
Não seja partida, seja até mais ver.

Acordado ainda, 
Desperto dos dias mal sentidos. 
Vejo que inda há vida; 
Além do horizonte há um dia vindo. 
Idos os dias passados, 
Porta a fora, a praça 
Pede festa até o sol nascer. 
Ao adormecer da vida 
Sinto que a partida é esperar rever.


domingo, 23 de março de 2014

Vincent



A turbidez da imagem sonhada 
Impressa a óleo sobre a tela 
Trazia à realidade clara 
A dor da alma por trás dela. 
Tão bela obra elaborada 
Por mente assaz perturbada 
Só poderia ser chamada 
De sonho em óleo sobre tela.

 

sábado, 15 de março de 2014

Quedê?



Onde estará o meu maço de ideias? 
Onde andará meu buquê de esperanças? 
Onde deixei minha caixa de sonhos? 
Onde é que está meu amor de infância?

 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Palavras vadias



As palavras metidas 
Na métrica fria de versos, 
Vazias de vida e sentido, 
De amor desprovidas, 
Apenas se deixam usar... 
Palavras não sabem o que dizem.

 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Desde sete de abril



Não te conheci e me apaixonei no mesmo instante. 
Te conheço e me apaixono, mais e mais, a cada dia. 
Não te achei maravilhosamente linda à primeira vista. 
Maravilho-me de tua beleza a cada novo olhar. 
Assim tenho te amado desde sete de abril.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Anônimo da Silva



A minha pobreza é de vida, 
Devida e não paga à morte. 
É sorte não ter longa vida, 
Mas que tem o pobre co'a sorte? 
Se é forte dizer isso ainda, 
É que há coração caridoso. 
Se ver-me não te angustia, 
És verme em carne e osso.

Osso do quadril me desponta 
Se sento no banco da praça; 
Me faz bem o arrulhar das pombas 
Que em todos defecam de graça. 
Que graça que faço que riste? 
Se a vida é maior piada, 
Que tudo na vida é tão triste, 
Mas ri-se de tudo e de nada.

Se não faltar chuva pro banho, 
Jornal-cobertor, pão de ontem, 
Me faça o destino outro tanto 
De bem, se não mudo meu nome. 
De manhã acordo com fome, 
Mentira! Nem durmo, faminto. 
Será que mudando de nome 
Engano a fome e o destino?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Misteriosa vida



O que quer que seja a vida, 
Não é fácil de viver. 
A chegada e a partida 
Pouco podem nos dizer 
Dos caminhos percorridos, 
Do aquém e além daqui, 
Seja o que for a vida, 
Não é fácil definir. 
Ah, indecifrável vida, 
Dá-me um pouco descobrir.

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